30 setembro 2006

O nosso cantinho

Iniciamos a nossa busca dentro da cidade, mas constatamos que os valores eram muito elevados para nós. Então passamos a procurar nos arredores da mesma.

Vimos dezenas de apartamentos, mas nada nos agradava, pois não tinham mobília. E era necessário que assim fosse, uma vez que nós não tínhamos nem uma cama. O que tinhamos, resumiasse a roupas de cama, de banho e equipamento de cozinha.

Mas encontramos um T3 com quarto mobilado e cozinha equipada. Era o melhor que encontramos, dentro das condições que tínhamos. Fizemos um contrato de arrendamento verbal, em que tivemos de pagar o primeiro e ultimo mês de renda. Foi difícil, mas estavamos decididos em partilhar a nossa vida juntos. Queriamos ser uma familia, tal como as outras: construir um futuro juntos, passar pelas dificuldades (infelizmente) juntos e pelas alegrias e momentos bons que a vida nos proporcionaria.

Fez-se a mudança com uma carrinha emprestada por uma “amiga”, que também nos emprestou uns sofás antigos e que muito jeito nos deram. Alteramos a mobília à nossa maneira e dispusemo-los de forma a tornar o quarto mais confortável e bonito para nós.

Era a minha segunda casa. Com muito menos condições que a primeira, mas com muito mais entusiasmo. Era a minha primeira casa com alguém. O primeiro projecto de vida a dois. Cada momento, cada peça, por mais velha ou antiga que fosse, tinha um sabor diferente.

O nosso cantinho estava montado e era nosso. Ali começara a nossa felicidade.

Era Agosto e queríamos ausentar-nos da cidade para descansar e relaxar um pouco, mas as finanças eram poucas. Pensamos que não dariam para nada. Fizemos alguma pesquisa na net e juntamente com aquela “amiga”, descobrimos uns apartamentos em Sitges muito baratos, quando divididos pelos três. Fizemos contas. Pedimos ajuda aos pais do meu amor e da amiga e decidimos que era possível ir.

Com o carro carregado de malas, pois não há gay que não viaje com tudo o que merece, de comida certa para todas as refeições de uma semana, inclusive álcool, partimos em direcção a Sitges para as merecidas férias.

26 setembro 2006

Os Pais III

Mais ainda com a minha mãe a provocar o meu pai na conversa. Percebi mais tarde que ela apenas estava a descarregar raivas e frustrações em cima de mim.

E como ele insistia em me agredir e sem parar, houve um momento que não aguentei mais. Não resisti. E devolvi aquilo tudo:

“Tens um filho que é uma porcaria não é? Queres saber o porque das ausências do teu filho? Queres saber a razão de tantas mentiras? Sabes é que tens um filho que é homossexual. Não era o que querias, mas tens. Já estou farto de tanta mentira. Agora acabaram-se”

Foi um verdadeiro descalabro a conversa. Sei que aquilo lhe assentou com o uma tonelada em cima. Ele deve ter sido o mundo todo a desabar em cima dele, mas eu já não queria saber. Eu já havia pensado em contar tudo mesmo. Não daquela forma, mas foi ali, assim, sem pensar e sob tanta pressão que tudo saiu.

Lembro que naquele dia, aquela tonelada que lhe tida caído em cima, havia, finalmente, saído de cima de mim.

Voltei para casa. Fui ter com o meu amor. Contei como tudo havia acontecido e dali para a frente só faltava contar aos pais dele e procurar o “nosso cantinho”.

Ele contou aos pais alguns dias depois de uma forma bem mais suave que eu. Deixou um livro sobre homossexualidade no quarto dele, colocado de forma a ser facilmente visto e eis que surge a oportunidade. Eles quiseram falar com ele sobre o livro e perguntaram-lhe se ele queria dizer alguma coisa com aquilo. Claro que foi a oportunidade por ele esperada e contou-lhes tudo. Confirmou-lhes que era gay e que namorava comigo e que iríamos brevemente viver juntos.

Claro está que, apesar de uma forma menos agressiva que a minha, a tonelada caiu em cima deles na mesma. As duas semanas que se sucederam àquilo foram muito desagradáveis para ele, pois não havia outro assunto em casa a não ser aquele. Ele ainda vivia em casa deles. Eu já não vivia com os seus pais. Foi muito ofendido pelos pais verbalmente. Desde o chamarem de doente a sugerirem um internamento.

Até que ao final de duas semanas resolveram sentá-lo num sofá e perguntar-lhe se era aquilo que ele queria. Se assim era, que ele devia ter atenção à cidade pequena em que vivíamos, que apenas desejavam que ele fosse feliz e que estariam ao lado dele para sempre.

Apesar disto, os nossos irmãos não nos aceitavam e não falavam connosco.

Já só faltava procurar o “nosso cantinho”.

24 setembro 2006

Os pais II

Mas porquê a necessidade de contar ao meu pai que era gay? Porquê contar que ia viver com um homem?

Porque seria muito complicado e incómodo que acontecesse connosco o que acontecia comigo: alguém tocar a campainha do apartamento e ouvir no intercomunicador: “abre. Sou eu… ou somos nós”

Eles sempre apareciam quando lhes apetecia. Assim como o almoço de todos os domingos era, impreterivelmente, às 12h em ponto. Que poderia eu fazer? Mandar o meu homem embora pela escada de serviço enquanto eles subiam pelo elevador? Aparecer ao domingo com ele e dizer: “este é o meu marido?”

Depois de muitos anos de possessão, de stress e, finalmente, de pressões sobre o casamento, pois já tinha acabado o curso há muito e ainda não tinha casado… Eu teria mesmo de contar a verdade. Não me era mais permitido continuar um conjunto de mentiras e mais mentiras que se arrastavam e se desmentiam com outra mentira. Ainda por cima com uma mãe atenta e observadora que se apercebia cada vez mais das mentiras.

As pressões sobre as mentiras que eu mesmo esquecia que dizia e que eram todas relacionadas com a minha vida sexual privada eram cada vez mais acentuadas. Minha mãe chegava a telefonar a amigas minhas a perguntar se eu estava na cidade ou tinha saído da mesma, quando eu dizia que estaria fora no fim de semana num congresso e na realidade eu já passava os fins de semana, como já leram anteriormente, com o meu homem em casa.

Comigo aconteceu da seguinte forma. Num domingo seguinte, ao almoço, meus pais resolveram voltar a tocar no assunto dos fins de semana, que eu estava muitos para fora, como é que eu me ausentava tantos, que eu tinha tantos congressos e seminários, o que eu fazia ao dinheiro, pois não guardava nenhum, que devia guardá-lo para supostamente pagar as dividas que houvera deixado aquando do desemprego…

Tudo aquilo ruminava nos meus ouvidos durante todo o almoço…

Os pais

Este é um assunto que espero tenham paciência.

A minha família. Como iria eu introduzir este tema? Como iriam reagir? Todas aquelas questões que nos colocamos ao longo da nossa vida surgiam em flash dentro de mim. Mas o certo é que teria de contar.

Para que entendam o porque terei de regredir um pouco.

A minha família, composta por pais e um irmão 5 anos mais novo, é natural do meio rural. Emigrantes em pais muito desenvolvido durante décadas. Regressados às origens há já algumas décadas também. Eu saí de casa muito jovem para a grande cidade para ingressar na universidade. Eles mantiveram-se por lá, onde eu os visitava com bastante frequência. Aquela que era obrigatória a qualquer estudante universitário.

Os meus pais sempre foram muito possessivos. Tudo era segundo as normas deles. Inclusive o curso superior que haveria de frequentar. O que não aconteceu. Pela primeira vez eu fiz e decidi algo que eu queria. O que originou muitos conflitos entre nós, mas que acabaram por se resolver. Tal como todos os outros problemas ficavam sempre resolvidos. Costumo dizer que esta família vive como se nunca tivesse problemas. Mas está sempre tudo por resolver…

Também a compra da minha primeira casa, aquela que tive de abandonar por estar desempregado, foi conflituosa, pois eles achavam que eu deveria ficar a viver em casa deles, na aldeia, até casar. Seria a assinatura da minha declaração de óbito oficial. Claro que não aconteceu. Comprei a casa, apesar dos conflitos.

O primeiro a quem contei foi ao meu irmão. Precisamente e ironicamente na noite de natal anterior a termos decidido viver juntos. Ele achou que aquilo era uma fase e que iria passar. Afastou-se por algum tempo. Penso que a informação deve ter mexido com a sua masculinidade. Mas mais tarde voltou a aproximar-se, mas sempre e sem tocar neste assunto. Tornou-se assunto tabu entre nós. Respeitei.

Depois veio a minha mãe. Ela soube-o num dia em que eu tinha dito a o meu irmão que lhe ia contar e este teve o descaramento de me proibir de o fazer. Como se ele fosse mais um a controlar a minha vida. Até ali eu deixara os meus pais tomarem algum controlo sobre ela, mas ao meu irmão nunca. E, durante a conversa que decorria no quarto e eu lhe tentava explicar as razões que me levavam a querer contar à mãe, o nosso tom de voz elevou-se e a nossa mãe ouviu a discussão.

Após ele ter saído de casa chateado a minha mãe veio ter comigo perguntando o que acontecera. Tentei inferir que não era nada de especial, que era assunto nosso. Ela começou a pressionar mais uma vez e como sempre, querendo saber o razão daquela discussão. Resolvi induzir então a conversa e levá-la a deduzir tudo. Assim aconteceu. Depois de ter dito aquelas coisas que todos sabemos, sobre “ser algo que tu não vais gostar de ouvir, etc.”, ela perguntou-me: “vais dizer-me que és homem sexual? É isso?”

Aquela frase causou-me algum humor, pois a minha mãe nem sabia dizer a palavra correctamente. Corrigi-a e falamos sobre o assunto. Ela chorou bastante, como era de calcular. Pediu-me incessantemente para procurar ajuda, para me tratar, para me curar. Pediu-me que voltasse a viver em casa deles, que ela me ajudaria a ficar bom. Tentei explicar que aquilo não era doença, que não tinha “volta”.

Sugeriu-me que me poderia casar rapidamente, porque assim aquilo passava. Resolvi despedir-me dela e regressar a minha cidade. Pensei que deveria deixá-la pensar e reflectir sobre aquilo tudo. Depois voltaríamos a falar. Afinal eu tinha deixado uma bomba nuclear nas mãos dela.

Regresso de Paris....Decisões

Passados alguns dias os nossos comportamentos alteraram-se gradualmente. Dei comigo a fazer aquilo que nunca pensei fazer, como segui-lo de carro quando ele se despedia, ao final da noite, para confirmar se de facto ia para casa.

Assim como ele deixava a chave de casa, propositadamente, na minha casa e regressava passados uns 10/15 minutos para as buscar, só para verificar se eu não recebia outros ou não saia de casa para ir ter com outro.

Estes comportamentos, perceptíveis por ambos tornavam-se ridículos, apesar de ao mesmo tempo nos encherem o ego (era optimo saber que o outro tinha medo de nos perder).

Num dos habituais serões passados naquele sofá eu resolvi lançar uma pergunta que há muito tempo ruminava os meus pensamentos. Depois de ter induzido a conversa e a ter levado ao ponto que queria, surge a minha pergunta: “o que achas de irmos viver juntos?”

Parecia que eu tinha cometido um pecado capital, que tinha assinado uma declaração de suicídio, enfim. O rapaz tomou uma atitude de agressividade. Começou a gritar que eu era maluco, que o que é que dizia aos pais, que neste cidade nunca… Enfim, as justificações que dava eram imensas. Propus alugarmos uma casa fora da cidade, numa aldeia a redor, mas claro: “o que é que as pessoas vão falar quando se aperceberem que somos um casal?”

Qualquer que fosse a solução, era sempre por ele vetada. A única solução valida era irmos viver para longe. O que seria muito difícil, pois ambos empregos estava aqui. Por um lado eu entendia a dificuldade de passar a esta fase numa cidade tão pequena quanto a nossa, onde toda a gente conhece toda a gente e mesmo que não conheça, alguem conhece e fala e é sufuciente para começar a conhecer. Onde eu era uma figura pública. Mas aquilo para mim não era importante. Eu amava-o tanto que a opinião dos outros deixa de ter valor sobre mim e as minhas decisões passam apenas por avaliar o meu grau de felicidade.

Durante todo o discurso a agressividade esteve presente nos seus sentimentos e emoções e nunca foi verbal ou comportamental. Dizia-lhe, ao longo da conversa, que não precisava ficar assim, que não precisava falar tão alto. Apenas tinha feito um pergunta simples e que não teria de ser levada tão seriamente, nem responder-se naquele dia. Ainda ouvi: “já te disse que aqui não vivo nem contigo, nem com ninguém”.

Pensei para comigo que nunca havia visto alguém ficar naquele estado de uma forma tão veloz e com apenas uma pergunta. Concluí que não se falaria mais no assunto.

Os dias passaram-se dentro da normalidade. Pelo menos a nossa. Trabalho de dia e encontro de noite. Os meus dias eram passados sempre ansiando pela noite para poder vê-lo.

Uma noite, mais ou menos uma semana após este episódio, ele introduz uma conversa: “se fossemos viver juntos, para onde iríamos?” ao ouvir esta pergunta, respondi com outra: “o que é que queres dizer com isso?”.

Ele tinha decidido que queria viver comigo. Foi a loucura total nas minhas emoções e sentimentos. Eu pulava de alegria e ele também. Tínhamos decidido partilhar as nossas vidas. Realizar os nossos projectos a dois.

Depois destas euforias, paramos para pensar de que forma o faríamos, se procurávamos uma casa na cidade ou arredores, se os ordenados que tínhamos seriam suficientes. E decidimos procurar uma casa nos arredores, até porque seria certamente mais barata que na cidade. Mas o primeiro passo a tomar, traria-nos algum mal-estar e dor de cabeça: teríamos de dizer aos nossos pais. Este era certamente o passo mais difícil para ambos…
Peço perdão aos caros leitores deste blog pela actualização tardia entre cada post. Mas o facto deve-se à quantidade de trabalho que tenho tido, além de situações familiares que me impedem ter disponibilidade mental para escrever.

Prometo tentar fazê-lo com mais assiduidade.

Obrigado a todos pelos comentários.

17 setembro 2006

Mal a senhora se afastou, liguei logo para lhe dar a novidade:

- fui convidado a jantar em tua casa
- o que? Como assim? Por quem?
- pela tua mãe!
- como? O espanto e o susto que ele sentia era tão grande que ele até gaguejava.

Estive a contar-lhe a conversa com a senhora e no final recebi um “nem penses em jantar lá em casa”

Depois de almoço ele ligou-me para me contar a conversa ao almoço e como estava contente e bem impressionada comigo a senhora sua mãe. Mal ela sabia ou imaginava que havia tido a primeira conversa com o futuro genro. Naquela altura, nem nós sabíamos que o íamos ser.

Em Maio surgiu uma viagem nova. Paris. Numa quinta-feira partimos para Paris, como dois apaixonados. Ambos mentíamos às nossas famílias. No entanto era sempre mais fácil para mim, pois eu já não vivia em casa dos pais há alguns anos, nem na mesma cidade, embora estivéssemos perto e eles fossem possessivos e controladores.

Chegamos a cidade luz e fomos fazer o check in no hotel do pacote e surge a nossa única desilusão. Era uma hotel de 3 estrelas, que para nós portugueses seria de uma (se tanto), com um quarto quase tão pequeno, que mal cabíamos os dois em pé. Mas não seria aquilo que iria estragar aquilo que eu tinha previsto ser a “nossa lua de mel”.

Fomos visitar o Louvre, pois eu já houvera estado outras vezes em Paris, mas nunca tivera oportunidade de o visitar. Queria muito ver a famosa Mona Lisa. E, depois de muitos quilómetros a pé dentro do museu, chegamos ao pé da afamada. Foi maior a desilusão que o tamanho da pobre. Apesar de bonita. Rodeada de chineses (ou japoneses, nunca sei), que foi difícil poder tirar-lhe a foto da praxe, mas conseguimos.

Seguimos rumo à Torre Eiffel. Subimos. E ficamos extasiados pela paisagem. Não sabemos quanto tempo lá ficamos, mas foi um dos melhores prazeres que tive, usando quase todos os sentidos.

Claro está que nessa noite quisemos ir conhecer a noite gay da cidade. E, consultado o guia por nós feito e pesquisado na net, resolvemos ir a uma discoteca chamada “Depôt” (depósito), que teria 900m2 e teria como referência “uma das melhores da cidade”.

Entramos para um pequeno espaço onde não havia quase ninguém e pensamos que era aquilo a melhor da cidade? Pedimos as nossas bebidas e resolvemos dar um passeio pelo espaço. Qual não foi o nosso espanto, que se tratava de uma discoteca de sexo. Corredores repletos de pessoas entrelaçadas naquilo que todos gostamos. Com uma pista no meio dos corredores, onde reparamos ser o local de descanso e recarga de baterias, para mais tarde regressarem ao “ataque”.

Bebemos e saímos. Definitivamente aquilo não era para nós. A noite terminou numa fantástica sessão de sexo no hotel.

No dia seguinte, continuamos com a visita pela cidade. Arco do Triunfo. Rio Sena. Notre Dame. Jantamos num pequeno restaurante na zona gay. Além de muito simpático, tinha o requinte na confecção e apresentação dos pratos. Descobrimos ali e em conversa com outro casal ao nosso lado que a discoteca do momento era nos Campos Elísios.

Assim fomos. Ambos concordamos. Foi uma noite divertida para mim, pois ele demonstrou, pela primeira vez ciúmes. A noite terminou mais cedo do que era previsto. Ele quis ir para o hotel, pois “eu olhei muito para outro que estava perto de nós”, segundo ele. Terminamos, mais uma vez, na nossa cama de hotel.

Regressamos no domingo. Nada indiciava o que se aproximava…

Sábados e família


Todos os sábados nos encontrávamos por coincidência no mesmo bar. Pela menos, assim era para os amigos de ambos. Eu costumava chegar primeiro. Ele chegava mais tarde e acompanhado pelos amigos. Eu passava, despropositadamente, por ele cumprimentava-o com um aperto forte de mãos e aos amigos. Separávamo-nos e passávamos a maior parte da noite a trocar olhares cúmplices um com o outro, sem que os outros nos percebessem.

Quando a noite chegava ao fim eu ia para casa e pouco depois ele chegava e fazíamos amor loucamente naquela cama velha que muito teimava em fazer-nos concorrência. Tal era a nossa loucura naquele sexo quase selvagem, que um dia a vizinha de baixo pediu a minha senhoria que me avisasse do barulho. Imaginem a sensação de ouvir da boca de uma senhora de sessenta anos, apesar de nossa grande amiga: “quando fizerem aquilo, façam na sala, pois o seu quarto é mesmo em cima da vizinha e assim ela não vos ouve”.

Em meados de Abril, eu dava uma acção de formação numa escola da cidade. Onde tive o meu primeiro embaraço com a minha futura “família”. No segundo dia da formação, eu estava no bar com alguns formandos, quando uma senhora de baixa estatura, cabelo cor caju, bem penteado, óculos e bata branca entrou no bar, dirigiu-se a mim e perguntou:

- o Sr. é o XXXXX?
- sim
- olá como está? Eu sou a mãe do XXXX. Gostava de dar uma palavrinha consigo. É possível?
- claro que sim.

E rapidamente me levantei e afastei, levando a sra. delicadamente pelo braço. Em segundos meus pensamentos voaram à velocidade da luz «deixa-me afastar daqui, já deve ter descoberto e vem tirar satisfações… não posso passar por uma humilhação aqui…»

- eu sei que o meu filho tem estado com o Sr. e que o Sr. o tem tentado ajudar… veja o que pode fazer por ele, por favor…veja só que um rapaz da idade que tem e por vezes tem comportamentos como se de um adolescente se tratasse… imagine que todos os dias sai de casa para tomar café no final de jantar e só regressa de madrugada, para se levantar cedo no dia seguinte para ir trabalhar… às vezes parece um adolescente, não tem responsabilidade nenhuma… faça o que puder por ele, por favor… eu até gostaria de convidar o Sr. a um dia jantar lá em casa, se assim entender…”

Imaginem as minhas sensações… calma por não ser aquilo que pensara e um misto de constrangimento com humor, pois a queixa era mesmo sobre mim… «Pobre senhora», pensei naquele momento. Mas claro que nada iria fazer para remediar aquela queixa.

14 setembro 2006

A Declaração

Numa noite fria de Inverno em Março estávamos comodamente deitados, abraçado a ele de costas para mim, no sofá a ver TV. Aquele cheiro da pele dele, enubriante e extasiante começou a deixar-me maluco. Sinto um calor intenso no meu entre pernas e começa a ficar mais duro que um diamante.

Encosto-me mais a ele. Para que ele o sinta bem duro. Para que ele perceba o que poderia perder aquela noite. E sinto o seu delicioso rabinho e encostar-se a mim. Fazendo um leve pressão contra o meu latejar. Acaricie-o suavemente com a minha mão, subindo pela perna disponível e entrando lentamente pela camisa, chegando ao peito e roçando os mamilos, ao que ouvi um suave “aaahhhhh”

Aquele gemido lânguido activou todas as partículas do meu corpo e naquele momento o que mais queria era comê-lo todo. Devorá-lo. Rebentá-lo.

Ele virou-se para mim e começou a beijar-me. Despimo-nos enquanto nos beijávamos. Ficamos nus. E sentimos nossos paus roçarem-se.

Quanto mais sentia o seu cheiro, mais aumentava o meu desejo de lhe lamber as orelhas, o pescoço, o peito… assim estivemos até que ele me disse “hoje quero fazer-te uma surpresa” “O quê?” perguntei eu. “Já verás”

Assim continuamos naquele roço maravilhosos até que ele começa lentamente a descer a língua e os lábios e para mesmo frente à dureza do meu pau e inicia um felatio, com um prazer e uma loucura que nunca houvera eu sentido até àquele momento. Aquilo estava a levar-me ao êxtase. E quanto este chegou avisei, para evitar que algo lhe pudesse ser desagradável.

Qual foi o meu espanto que ele acelerou os movimentos bucais até que não pude mais aguentar uma explosão de prazer, em deliciosas contracções e ele engoliu tudo!!!

Nunca ninguém em toda a minha vida havia feito algo semelhante comigo. Fiquei tão sensibilizado. Tão feliz! Tão… Apaixonado!!!!

Ele também nunca havia feito aquilo a ninguém. Foi naquele momento e com aquela surpresa que percebi a mensagem: estava apaixonado!
Recebi naquela noite e naquele momento a mais bonita declaração que alguém me houvera feito. Estavamos ambos apaixonados. Pelo menos era o que eu pensava.
Os dias seguintes decorriam da mesma forma. Ele continuava a visitar-me apenas quando saia dos amigos e passava as horas do final do dia comigo. Havia momentos em que eu queria mais.
Nos sábados saíamos, cada um com seus amigos e encontravámo-nos "coincidentemente" no mesmo bar. E a noite terminava na minha casa, fazendo amor loucamente. Inclusive algumas noites de sábado ele dormia lá em casa, sempre com grandes filmes para os pais nada desconfiarem.

13 setembro 2006

Continuação

Pediu-me para não ir embora. Para ficar. Senti que estava a ser verdadeiro e resolvi saber o porque daquilo tudo.

Contou-me então uma relação anterior que tivera com alguém publicamente famoso e que durara ano e meio. Alguém por quem fora loucamente apaixonado, mas com quem sofreu muito. Fiquei a saber que esse outro o forçara a fazer coisas que não gostava (sexuais), assim como o agredira fisicamente várias vezes, entre outros episódios que não são mais relevantes que estes. Até aqui eu entendia isso, mas o que tinha eu a ver com tudo aquilo?

Quem diária!!! Eu era supostamente parecido com aquela pessoa (que por sinal é fisicamente interessante;)). Segundo ele eu era parecido na forma como conversava, como o mimava, como ajeitava os óculos na cara, inclusive na forma como eu fazia sexo.

Aqui eu entendera muitas coisas que já tinham acontecido, mesmo a diminuição do desejo sexual por mim. Foram horas de diálogo em que reflectimos como eu não seria igual ao outro. Que nunca o iria maltratar, nem agredir fisicamente.

Como poderia ser eu igual ao outro, se o outro é mais novo que eu. Quanto muito ele ser igual a mim. Mas nem isso, pois eu sou único!

Após muitas horas de conversa, resolvemos deitar-nos e descansar. Claro que não fui embora.

As semanas seguintes foram psicologicamente agitadas, pois aquilo estava muito presente nas nossas vidas. Na minha então… cada passo, comportamento, atitude, gesto que fazia era susceptível de ser comparado com o outro. A pressão que sentia era imensa.

Lembro momentos de cansaço e exaustão para pensar em tudo antes de agir. Mas o tempo foi, gradualmente tratando de lhe mostrar que afinal eu não era ssim tão parecido com o outro.

06 setembro 2006

Primeira crise e ainda não eramos nada

A nossa vida em conjunto foi decorrendo como se podia. Com ele a encontrar-se comigo ao final das noites (sempre atrasado, para não variar)

Naquela época eu estava desempregado. Após um brusco rompimento com a entidade patronal, tinha-me estupidamente demitido. A minha situação financeira era deplorável, mas o pouco que fazia em pequenos serviço serviam para simplesmente poder levá-lo de fim de semana. Tudo o que mais queria naquela altura era passar o maior tempo possível com ele.

Em Janeiro surge o nosso primeiro fim de emana ao estrangeiro: Madrid. Reservei quarto num hostal. Dinheiro contado para tudo, mesmo! Conhecemos a noite da “chueca” e regressamos no domingo. Ele dizia aos pais que tinha que me acompanhar em trabalho, para eu não ir sozinho. Que mentiras ridículas encontramos para fazer o que queremos…

Em Fevereiro mudei de casa. Passei a habitar um velho apartamento que, gentilmente, uma amiga me havia emprestado. Também nesta altura encontro um emprego pouco estável, mas que dava para suportar as despesas mínimas. E entramos numa fase quase de rotura.

Nesta altura ele deixa de querer fazer amor comigo. Continuava a fazer-me as visitas diárias, mas fazer amor…nada. Inicialmente pensei que seria por causa de problemas familiares, mas as semanas foram passando e sem desejo nenhum.

Cheguei a alugar filmes pornográficos heterossexuais (que horror, eu sei!!!!) para que o estimulasse, mas nada. Adquiri um óleo de massagens para o seduzir e o resultado fora nulo. Algo de estranho se passava. Cometi a loucura de, várias vezes, após ter saído de casa, deslocar-me para confirmar se ia mesmo para casa dele ou ia ter com outro que lhe desse prazer. Imaginem o tormento que passava pelos meus pensamentos.

Surge outra oportunidade de irmos a Lisboa de fim de semana e lá fomos. Novamente hotel Ibis. Novamente saída à noite gay. Novamente Trumps. Novamente muitos sorrisos e simpatia para quem sorrisse. Novamente uma crise minha. A pior de todas, até àquele momento. Porque? Perguntam os leitores. Porque resolveu dar conversa animada (aos meus olhos) para um belo exemplar de carne que se aproximara.

E aconteceu mais ou menos assim:

Eu: vou-me embora
- já?
- sim, estou cansado e quero ir dormir
- mas é tão cedo ainda
- eu sei, mas estou cansado, retorqui novamente
- está bem, vamos
- mas se quiseres ficar, fica. Sabes onde é o hotel
- não sejas tolo.

E regressamos ao hotel. Depois das devidas higienes estarem efectuadas. Deitamo-nos e resolvi, mais uma vez, seduzi-lo. Provocá-lo. E ouço como resposta “não me apetece”

Adequei o meu comportamento àquela frase, mas a dor da rejeição era já tão grande que não consegui conter-me e resolvi levantar-me acender a luz da cabeceira e começar a fazer a minha mala para regressar a casa.

Ele assustou-se e pergunto o que se passara e expliquei-lhe que estava cansado daquela situação, da rejeição. Inclusive que sentia ciúmes da atenção que houvera dado há minutos atrás na discoteca. Tudo aquilo fervilhava na minha cabeça. Por isso é melhor acabarmos com isto por aqui, pois queria parar de sofrer mais ainda.

Sentou-se na cama e as lágrimas começaram a brotar dos seus olhos como se de a morte de alguém se tratasse…

03 setembro 2006

Fim de semana II

No decorrer daquela noite agradável e prometedora, ele observava todos os movimentos de todas as pessoas, as suas interacções, tudo.

Mas os pequenos grãos de areia começavam a aparecer quando lhe tocava, quando tentava dar-lhe um leve beijo e ele evitava. Ao mesmo tempo que isto acontecia ele sorria para quem lhe sorria. Digamos que eram sorrisos de retribuição/ simpatia. Pois esta é uma das suas maiores qualidades.

Aquilo mexia comigo: se por um lado ele evitava o meu toque e o meu beijo, porque raio ele sorria para qualquer esfomeado típico que lhe sorria? (notem que nesta altura eu já estava possesso de ciúmes). Mas tentei falar com ele e explicar-lhe que não fosse tão “simpático”, pois aquela simpatia era interpretada pelos predadores como licença par avançar.

Como os santos da casa não fazem milagres, aquele conselho fora mal interpretado. Até que os ditos predadores se foram aproximando e metendo conversa. Como acham que me senti? Pois é!

E naquela primeira noite no mundo gay eu armei a que vinha a ser a primeira de muitas “barracas”. Resultado: uma enorme discussão. Que apenas terminou no quarto do hotel, arruinando uma noite que se adivinhava sexualmente fantástica e terminou tristemente de costas viradas, aguardando ansiosamente que o dia chegasse.

Outros fins de semana com saídas no mundo gay surgiram e cada uma me trazia pequenos dissabores, pois aquele sorriso sedutor que o caracteriza, aquela simpatia, aquele charme, mexiam sempre comigo. Mas parecia cada vez mais difícil que ele entendesse aquilo.

Cheguei a questionar o que sentiria ele por mim. Certamente que não era o mesmo que eu. E não me enganava. As minhas ambivalências eram cada vez mais acentuadas, pois por um lado eu estava já muito apaixonado por ele e sabia que ele não o estava, por outro pensava que o melhor era não continuar com aquilo.

Mas os meus sentimentos eram demasiado intensos. Enquanto não decidia, deixava-me estar. Sem ter a noção que a paixão aumentava a cada dia.

02 setembro 2006

Fim de semana: o primeiro de muitos

E foi em Lisboa.
Sexta feira. Depois do trabalho, saímos de carro e malas feitas. Hotel Ibis, numa transversal da Av da Liberdado. Recepção para check in: "por favor, queremos um quarto com cama de casal e o mais alto possível". Ele ficou vermelho, azul, em fim, acho qua as cores da nossa bandeira passaram por ele naquele momento.
E, já no elevador, perguntava-me: "o que é que o rapaz vai pensar?
"Que somos namorados. Não é o que somos? não o conhecemos nem ele a nós. Pouco nos interessa o que ele pensa. Se ele pagasse o quarto... Mas como somos nós..."
Mas aquilo fez-lhe confusão. Para ele não havia necessidade de pedir aquilo. Poderiamos juntar as camas e resolviamos o problema. Mas se dão quartos a casais heterossexuais, porque raio não teremos o mesmo privilégio?
Fomos ao quarto. Tomamos banho e saímos para jantar.
Restaurante: Trivial no Principe Real. Comida fantásticamente bem cozinhada (penso ser bom crítico, pois adoro e sei cozinhar, ao que dizem).
Fomos tomar algo ao Bairro Alto. Bar Portas Largas. Com aquela multidão que permanece e passa pelas portas. De tudo um pouco... Bebemos e demos espaço para ele observar.
Era a primeira vez na vida que ele estava na noite gay. Embora a sua "escola" não fosse pequena, mas o mundo e a noite era.
Fomos depois ao antiquíssimo frágil, só para ver. E terminamos a noite no famoso Trumps.
Era a minha discoteca preferida. Sempre foi aquele local onde ia para me divertir, dançar e sem coisas estranhas.
E foi lindo de o ver. Parecia, como diz o ditado, um burro a olhar para um palácio. Aquilo era mesmo um mundo novo para ele. E para mim acabou por ser também. Pois eu nuca havia ido ao mundo gay com alguém por quem me tivesse apaixonado.
Mas o melhor/pior veio mais tarde.