24 setembro 2006

Os pais II

Mas porquê a necessidade de contar ao meu pai que era gay? Porquê contar que ia viver com um homem?

Porque seria muito complicado e incómodo que acontecesse connosco o que acontecia comigo: alguém tocar a campainha do apartamento e ouvir no intercomunicador: “abre. Sou eu… ou somos nós”

Eles sempre apareciam quando lhes apetecia. Assim como o almoço de todos os domingos era, impreterivelmente, às 12h em ponto. Que poderia eu fazer? Mandar o meu homem embora pela escada de serviço enquanto eles subiam pelo elevador? Aparecer ao domingo com ele e dizer: “este é o meu marido?”

Depois de muitos anos de possessão, de stress e, finalmente, de pressões sobre o casamento, pois já tinha acabado o curso há muito e ainda não tinha casado… Eu teria mesmo de contar a verdade. Não me era mais permitido continuar um conjunto de mentiras e mais mentiras que se arrastavam e se desmentiam com outra mentira. Ainda por cima com uma mãe atenta e observadora que se apercebia cada vez mais das mentiras.

As pressões sobre as mentiras que eu mesmo esquecia que dizia e que eram todas relacionadas com a minha vida sexual privada eram cada vez mais acentuadas. Minha mãe chegava a telefonar a amigas minhas a perguntar se eu estava na cidade ou tinha saído da mesma, quando eu dizia que estaria fora no fim de semana num congresso e na realidade eu já passava os fins de semana, como já leram anteriormente, com o meu homem em casa.

Comigo aconteceu da seguinte forma. Num domingo seguinte, ao almoço, meus pais resolveram voltar a tocar no assunto dos fins de semana, que eu estava muitos para fora, como é que eu me ausentava tantos, que eu tinha tantos congressos e seminários, o que eu fazia ao dinheiro, pois não guardava nenhum, que devia guardá-lo para supostamente pagar as dividas que houvera deixado aquando do desemprego…

Tudo aquilo ruminava nos meus ouvidos durante todo o almoço…