17 setembro 2006

Sábados e família


Todos os sábados nos encontrávamos por coincidência no mesmo bar. Pela menos, assim era para os amigos de ambos. Eu costumava chegar primeiro. Ele chegava mais tarde e acompanhado pelos amigos. Eu passava, despropositadamente, por ele cumprimentava-o com um aperto forte de mãos e aos amigos. Separávamo-nos e passávamos a maior parte da noite a trocar olhares cúmplices um com o outro, sem que os outros nos percebessem.

Quando a noite chegava ao fim eu ia para casa e pouco depois ele chegava e fazíamos amor loucamente naquela cama velha que muito teimava em fazer-nos concorrência. Tal era a nossa loucura naquele sexo quase selvagem, que um dia a vizinha de baixo pediu a minha senhoria que me avisasse do barulho. Imaginem a sensação de ouvir da boca de uma senhora de sessenta anos, apesar de nossa grande amiga: “quando fizerem aquilo, façam na sala, pois o seu quarto é mesmo em cima da vizinha e assim ela não vos ouve”.

Em meados de Abril, eu dava uma acção de formação numa escola da cidade. Onde tive o meu primeiro embaraço com a minha futura “família”. No segundo dia da formação, eu estava no bar com alguns formandos, quando uma senhora de baixa estatura, cabelo cor caju, bem penteado, óculos e bata branca entrou no bar, dirigiu-se a mim e perguntou:

- o Sr. é o XXXXX?
- sim
- olá como está? Eu sou a mãe do XXXX. Gostava de dar uma palavrinha consigo. É possível?
- claro que sim.

E rapidamente me levantei e afastei, levando a sra. delicadamente pelo braço. Em segundos meus pensamentos voaram à velocidade da luz «deixa-me afastar daqui, já deve ter descoberto e vem tirar satisfações… não posso passar por uma humilhação aqui…»

- eu sei que o meu filho tem estado com o Sr. e que o Sr. o tem tentado ajudar… veja o que pode fazer por ele, por favor…veja só que um rapaz da idade que tem e por vezes tem comportamentos como se de um adolescente se tratasse… imagine que todos os dias sai de casa para tomar café no final de jantar e só regressa de madrugada, para se levantar cedo no dia seguinte para ir trabalhar… às vezes parece um adolescente, não tem responsabilidade nenhuma… faça o que puder por ele, por favor… eu até gostaria de convidar o Sr. a um dia jantar lá em casa, se assim entender…”

Imaginem as minhas sensações… calma por não ser aquilo que pensara e um misto de constrangimento com humor, pois a queixa era mesmo sobre mim… «Pobre senhora», pensei naquele momento. Mas claro que nada iria fazer para remediar aquela queixa.