26 setembro 2006

Os Pais III

Mais ainda com a minha mãe a provocar o meu pai na conversa. Percebi mais tarde que ela apenas estava a descarregar raivas e frustrações em cima de mim.

E como ele insistia em me agredir e sem parar, houve um momento que não aguentei mais. Não resisti. E devolvi aquilo tudo:

“Tens um filho que é uma porcaria não é? Queres saber o porque das ausências do teu filho? Queres saber a razão de tantas mentiras? Sabes é que tens um filho que é homossexual. Não era o que querias, mas tens. Já estou farto de tanta mentira. Agora acabaram-se”

Foi um verdadeiro descalabro a conversa. Sei que aquilo lhe assentou com o uma tonelada em cima. Ele deve ter sido o mundo todo a desabar em cima dele, mas eu já não queria saber. Eu já havia pensado em contar tudo mesmo. Não daquela forma, mas foi ali, assim, sem pensar e sob tanta pressão que tudo saiu.

Lembro que naquele dia, aquela tonelada que lhe tida caído em cima, havia, finalmente, saído de cima de mim.

Voltei para casa. Fui ter com o meu amor. Contei como tudo havia acontecido e dali para a frente só faltava contar aos pais dele e procurar o “nosso cantinho”.

Ele contou aos pais alguns dias depois de uma forma bem mais suave que eu. Deixou um livro sobre homossexualidade no quarto dele, colocado de forma a ser facilmente visto e eis que surge a oportunidade. Eles quiseram falar com ele sobre o livro e perguntaram-lhe se ele queria dizer alguma coisa com aquilo. Claro que foi a oportunidade por ele esperada e contou-lhes tudo. Confirmou-lhes que era gay e que namorava comigo e que iríamos brevemente viver juntos.

Claro está que, apesar de uma forma menos agressiva que a minha, a tonelada caiu em cima deles na mesma. As duas semanas que se sucederam àquilo foram muito desagradáveis para ele, pois não havia outro assunto em casa a não ser aquele. Ele ainda vivia em casa deles. Eu já não vivia com os seus pais. Foi muito ofendido pelos pais verbalmente. Desde o chamarem de doente a sugerirem um internamento.

Até que ao final de duas semanas resolveram sentá-lo num sofá e perguntar-lhe se era aquilo que ele queria. Se assim era, que ele devia ter atenção à cidade pequena em que vivíamos, que apenas desejavam que ele fosse feliz e que estariam ao lado dele para sempre.

Apesar disto, os nossos irmãos não nos aceitavam e não falavam connosco.

Já só faltava procurar o “nosso cantinho”.

1 Comments:

Blogger Blog Jotha Design said...

camamba que historia, espero que estejam bem ok?

bçao

3:14 da tarde  

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