14 outubro 2006

O novo cantinho

Procuramos outra casa ao mesmo tempo que aguardávamos uma proposta da imobiliária. Encontramos uma nova casa em poucos dias. Nova para nós, mas um pouco velha em idade. Não importava. O que queríamos era o nosso cantinho. E parecia que o tínhamos conseguido.

Foi numa aldeia perto da nossa cidade. Era alugada directamente ao proprietário. Um senhor de faces rosadas, daquelas que pareciam ser de quem gostava de beber uns tintóis. Não nos enganávamos.

Tinha três quartos, um wc, uma sala e uma cozinha com lareira. Tudo estava bom. Acabadinha de ser pintada de branco. Porque não? O que queríamos, como já dissemos, era o nosso cantinho. Alugamos e rapidamente mudamos.

Continuávamos com os mesmos escassos móveis que tinham sido gentilmente emprestados. A cama era do senhorio. Daquelas em ferro branco e com bolas de loiça pintadas com umas rosas, no meio das barras de ferro. Era lindo!!!!

A nossa “amiga”, que muito jeito tem para as decorações, fez o favor de nos dar umas dicas e transformar aquelas tristes divisões em espaços acolhedores e agradáveis.

Agora parecia que tínhamos acertado no nosso cantinho.

A vizinhança era agradável. Simpática. E, como não podia deixar de ser, alcoviteira. Estávamos numa aldeia de Portugal... Mas nunca interferiram nas nossas vidas.

O nosso primeiro andar estava por cima de um cafezinho minúsculo, mas que muito jeito deu e onde as pessoas da rua se encontravam ara tomar café ao final das refeições e fazer serão no final do dia. Na esplanada que ficava mesmo por baixo da varanda da nossa sala. Não imaginam as vezes que ouvimos falar de nós mesmo nas nossas barbas. Felizmente nunca ouvimos um comentário depreciativo.

O mais caricato eram as especulações que faziam a nosso respeito. Eu era o “Dr”, até porque havia pessoas na aldeia que trabalhavam na mesma instituição que eu e rapidamente se soube. O meu lindo era o “engenheiro”. Nunca percebemos o porque, mas estava bem assim. Sempre demonstravam respeito.

Quando tomávamos café no cafezinho da terra, era simplesmente delicioso ouvi-los falar conosco e dizer-nos “o seu primo…” ou “o seu colega…” ou “o seu amigo…”

Tínhamos, por vezes, vontade de dizer-lhes para se decidirem.

Mas como todos os prédios, o nosso era também contemplado com “a cusca “ do sítio. Ao final de algumas poucas semanas de estarmos a viver ali, houve uma reunião de condomínio, à qual não fomos, pois era da competência do senhorio. Mas no dia seguinte à mesma, tivemos a única surpresa da “cusca”.

Ela referira, publicamente, que os vizinhos do 1º esq faziam muito barulho de gemidos de madrugada, por volta das 3h00.

Aqui descobrimos que era ela a “cusca”. Pois nós vivíamos no 1º esq e ela no 3º esq. Como era possível que ela nos ouvisse gemer? Ainda por cima de madrugada? Muitas questões poderiam ser levantadas a este respeito. Mas rapidamente percebemos que o problema da senhora eram as saudades que tinha do tempo em que o marido lhe provocava aqueles gemidos…

Como soubemos isto? O pobre senhorio teve de falar conosco e dizer-nos este recado no dia seguinte. Foi delicioso ver a cara mais encarnada que um tomate e o timbre da voz que tremia e gaguejava ao informar-nos e pedir-nos para sermos mais silenciosos.

Em conclusão, o melhor desta experiência foi sentir e perceber que ao fim de um ano nada disto alterava o comportamento da vizinhança e/ou do senhorio em relação a nós. Mas o nosso alterou-se com esta vizinha, que nunca mais consegui ver a cor dos meus dentes e o quanto eles poderiam ter amarelado ao longo do ano.

4 Comments:

Blogger tiago said...

xii, que ambientados!! ca fixe!!! :) fico contente por vocês!

8:41 da tarde  
Blogger Blog Jotha Design said...

FAla ae, que historia maneira, espero que continue tudo mto bem ok?

bçao

3:43 da tarde  
Blogger eskimo friend said...

achei este post delicioso, fex lembrar-me uma série britanica que dava no britcom na 2: há uns tempos. acho mesmo que o vosso blogue seria um sucesso de fosse um pouco mais esse "ser guy numa aldeia das beiras" era lindo. acho apenas que devias escrever posts mais curtos (nunca além das 250 palavras) porque geralmente em posts muito longos a leitura é deixada a meio, e é uma pena...

8:01 da tarde  
Blogger eskimo friend said...

o comentário ficou com 2 ou 3 erros. podes corrigir se quiseres.
abc

8:02 da tarde  

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